quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Geração T



"É um milagre que a criatividade resista a educação formal" Albert Einstein. Sem querer ceder a tentação de rotular, pois os rótulos reduzem a realidade, escondem, simplificam e empobrecem as coisas, refletiremos sobre o surgimento de uma nova geração.

A humanidade em toda sua existência produziu 12 bilhões de gigabytes de informação, algo como 54 trilhões de livros com 200 páginas cada. Em 2007 foram mais de 100 bilhões de gigas e em 2012 serão alguns trilhões.
Mas de que adianta tanto conteúdo senão temos capacidade de dar sentido a realidade?

Participando de uma palestra sobre a "Comunicação em um mundo Globalizado" percebi um grande número de jovens teclando sem parar. Ao final de cada exposição de argumentos o debatedor fazia a inevitável indagação: alguém tem alguma dúvida?

Alguma colocação sobre o que foi dito? Mas raramente havia manifestação do auditório.

Essas e outras observações me levaram a aceitar a definição de que estamos vendo hoje o surgimento da Geração T - de TESTEMUNHA, uma geração que sabe de tudo que acontece mas não tem idéia de porque acontece. São uma espécie de distribuidores de conteúdo de terceiros, focados no processo de sociabilização da informação mas sem qualquer compromisso com o conteúdo distribuído.

Falta nessa geração estimulo para desenvolver criatividade. Paulo Freire em seu livro Pedagogia do Oprimido revela que nas academias o saber é visto como uma doação dos que se julgam seus detentores. Trata-se, para Freire, de ensino alienante, mas não menos ideologizada do que a que ele propunha para despertar a consciência dos oprimidos. "Sua tônica fundamentalmente reside em matar nos educandos a curiosidade, o espírito investigador, a criatividade", escreveu o educador.

Temo que a educação de hoje esteja acomodando as pessoas ao invés de inquietá-las. Nélida Piñon, Presidente da Academia Brasileira de Letras, disse em entrevista publicada na Revista Istoé (edição 2012 de 19/02/10) "Brasília é um celeiro de mediocridades, não há uma reflexão sobre o Brasil. A vida política nacional está deficitária em talentos, lhe falta dimensão moral e intelectual. Como brasileira, não posso perdoar uma coisa dessas num país que teve grandes oradores e excepcionais intérpretes do Brasil, como Machado de Assis e Heitor Villa-Lobos, gente que buscou conhecer nossa identidade."

Precisamos refletir! A realidade é passível de diversas interpretações que levaram a caminhos diferentes, não devemos resistir a "era da informação", mas a entrega de corpo e alma sem reflexão nos fará eternos "Hércules-Quasimodos", como descreveu Euclides da Cunha em seu livro Os Sertões. Fico com o refrão de Geraldo Vandré em sua canção 'Pra não dizer que eu não falei das flores'

"Vem, vamos embora que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer".



José Alencar Lopes Junior
Membro Honorário APL
Cadeira 7H



Publicado em www.tribunadonorte.net