sexta-feira, 27 de julho de 2012

A Clivagem religiosa brasileira


Nos últimos vinte anos há significativas evidências de que tem ocorrido um distanciamento entre a Igreja Católica e o Estado, isso tem alterado sensivelmente a experiência religiosa de nosso país. A partir da segunda metade do século XX, o país tem vivenciado uma abertura do “mercado religioso” e político, através do aumento na membresia das denominações minoritárias e, recentemente de sua representação nas casas legislativas.

É certo que a presença evangélica na política não é um fenômeno recente, porém a experiência anterior guarda grandes diferenças com o fenômeno atual. A presença de “políticos evangélicos” em cargos legislativos e executivos desde a década de 30. Entre 1963 a 1967 chegaram ao número de 13 congressistas. Sua composição era marjoritariamente de fiéis de igrejas evangélicas históricas (presbiteriana, metodista e batista), diferente do período atual em que as igrejas pentecostais têm maior presença.

Em entrevista a Folha de São Paulo o líder de uma das denominações de maior influência no Brasil, as Assembleias de Deus, pastor Abner de Cássio Ferreira, afirmou “Temos visto, após vinte anos de crescimento um recuo das igrejas ‘modernas’, ao passo que há um crescimento das chamadas igrejas de discurso austero. Para este ano o seguimento evangélico almeja eleger um vereador em cada um dos cerca de 5600 municípios brasileiros e para isso contamos com grande mobilização entre nossos fiéis”.

Ao que parece, o movimento entre as igrejas minoritárias continua crescendo, ademais, o movimento político evangélico encontra sua origem no fim do império (1889) , ainda antes na Constituição de 1824 já estava estabelecido o reconhecimento da diversidade religiosa brasileira, porém continuava o catolicismo a religião oficial de Império. Sem maior rigor histórico, apartir da República aconteceu a separação Estado-Igreja (através da Constituição de 1891). Cabera em outra ocasião analise mais detalhada sobre o papel da Igreja na “Era Vargas”, por hora, nos ateremos ao fato de que apartir desse momento político se iniciou de maneira mais clara o relaxamento do sistema repressivo a outras religiões.

O declínio da população católica foi acompanhada de um significativo crescimento da população evangélica (de 5,8% na década de 70, para 15,4% no ano 2000 e cerca de 28,5% no ano de 2010), especialmente dos pentencostais que chegam a 18,3% da população brasileira atualmente. Além disso a frequência nos cultos pelos evangélicos é mais acentuada que a dos católicos, o que diminui o impacto da diferença populacional entre os dois. Ou seja embora continue a existir enorme diferença numérica entre as duas religiões em termos populacionais, quando observamos apenas a participação em cultos religiosos, a filiação evangélica quase equivale a católica.

“Como serviço que se consome ou não, porque não é mais compulsória ou única, obrigada a concorrer com um número cada vez maior de ofertas diferentes, a religião se privatiza e, ao se privatizar, atende apenas a uma parte da população. A religião que era, em geral, única para toda sociedade, passa a ser de poucos. Ela já não junta, mas separa” Reginaldo Prandi.

A sociedade deve estar atenta! Os meandros da política no Brasil esta mudando. Antes não havia ainda estratégias corporativistas, que pudessem levar os evangélicos a transformarem o “capital religioso em capital político”, mas os tempos mudaram, só os tolos não vêem.

Pense Nisso!


José Alencar Lopes Junior, pastor protestante, jornalista profissional e membro da Academia Pindamonhangabense de Letras - cadeira 7H.