terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O Gerúndio é apenas pretexto.


Segundo Luiz Costa Pereira Jr, a melhor definição para Gerúndio é: Vício de linguagem que simula a formalidade e evita compromisso com a palavra dada, o gerundismo joga luz sobre o artificialismo nas relações sociais.
Na semana passada, amigo leitor, eu me referi as Criaturas Intransitivas, que se comunicam através de linguajar básico, quase gestual. Pois bem, hoje falaremos sobre os Gerundistas. O gerúndio já foi alvo de tantos debates, que mesmo a polêmica em torno dele pode estar virando uma espécie de esporte de horas vagas. Embora não haja explicação única para a origem do fenômeno, sua popularidade chama a atenção não só de especialistas da língua, mas de empresários e ouvidos sensíveis a saraivadas repetidas do mesmo vício.
Há quem o defenda, como o professor de jornalismo Galdino Mesquita que diz: " Tão preconceituosa quanto inculta é a reação daqueles que estão condenando o gerúndio a qualquer pretexto. Muitas pessoas estão reagindo (e errando) quando julgam precipitadamente a pessoa que usa o gerúndio. O gerundismo é barbarismo. Já o gerúndio faz parte da última flor do Lácio, culta e bela. Certamente a razão de tão apaixonada defesa se deva ao fato dele nunca ter recebido, como eu, a resposta, "Vamos estar analisando seu projeto e estaremos entrando em contato". Esqueça isso nunca vai acontecer!
Diz o lingüista Sírio Possenti, da Universidade de Campinas: "Ao adotar o gerúndio numa construção que não o pedia, a pessoa finge indicar uma ação futura com precisão, quando na verdade não o faz". É no mínimo forçoso falar de uma ação isolada, que se concluiria num ato, como se fosse contínua. Quando respondem "Vamos estar analisando", forçam a barra para a ação requisitada, que potencialmente tem tudo para acontecer, não tenha mais prazo de validade (no caso concreto 4 meses já se passaram).
Devemos evitar a endorréia (o uso de muitos verbos juntos), sim, a palavra é parente da diarréia, para alegria dos humoristas. Mas a vítima do gerundismo não é o gerúndio isolado, in natura, é o artificialismo das relações sociais, a falta de comprometimento com a causa, o descaso da falta de ação, enfim, a superficialidade.
"Um dia me disseram/Que as nuvens não eram de algodão/Um dia me disseram/Que os ventos às vezes erram a direção/E tudo ficou tão claro/Um intervalo na escuridão/Uma estrela de brilho raro/Um disparo para um coração ... Somos quem podemos ser." (Engenheiros do Hawai, musica Somos quem podemos ser)
José Alencar Lopes Junior
É pastor protestante, jornalista e membro honorário da APL cadeira  7H.